Violência e Precariedade em O Filho da Mãe
Palavras-chave:
crítica literáriaResumo
As últimas décadas atestaram a proliferação de diversas formas de narrativas com a temática trauma e, na esteira dessa produção literária, veio a teorização, que teve impulso nos anos 1990, principalmente por meio da obra de Cathy Caruth (1996). Recentemente, iniciou-se uma crítica ao modelo de trauma desenvolvido por Caruth por não ser capaz de abarcar as violências diárias, sistemáticas e institucionais infligidas principalmente contra minorias (ROTHBERG, 2008). Apoiado nesse enfoque, investigo questões relativas a trauma, precariedade e vulnerabilidade em O filho da Mãe (2009), romance de Bernardo Carvalho. A narrativa apresenta dois contextos de violência presentes na Rússia e na Tchetchênia: a Segunda Guerra da Tchetchênia e a homofobia institucionalizada. Com base na articulação entre essas duas formas de violência, utilizo a noção de precariedade, elaborada por Judith Butler (2006, 2015) como um nexo entre as violências produzidas por conflitos geopolíticos armados e as agressões diárias causadas por um discurso homofóbico que inviabiliza o reconhecimento de certas vidas como vidas vividas, compreendendo mais adequadamente as experiências traumáticas narradas.