CORRENDO NA CONTRAMÃO DA VIDA:
A MULHER NEGRA REFÉM DO TEMPO E DO TRABALHO EM “O COOPER DE CIDA”, DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Resumo
Em “O cooper de Cida”, conto presente na obra Olhos d’água (2014), Conceição Evaristo conta a história de uma mulher negra trabalhadora e bem-sucedida, que, desconectada de sua ancestralidade e distanciada da narrativa negra de sua cidade, experimenta a solidão do tempo presente quase inteiramente cindida de seu tempo passado. Analisa-se, aqui, este conto utilizando a interseccionalidade como instrumento teórico e metodológico para questionar e refletir sobre quais teriam sido as dificuldades e as dores envolvidas no processo de romper com o local histórico de exclusão destinado à mulher negra, quando parece que a única saída para isso é transformar-se em uma mulher-máquina. O conto nos permite compreender como a dimensão tempo-espaço se constituiu ao longo da história com sentidos diferentes para brancos e negros, de modo a atualizar a percepção colonial, reconfigurando relações de desigualdade de classe e raça. Refém do tempo e do trabalho, Cida experimenta, no clímax, a (re)descoberta de sua essência, reconectando-se consigo mesma e conectando o presente ao passado - movimento de ancestralidade por meio do qual torna-se possível compreender a si mesmo, hoje, quando se compreende a história de quem veio antes.